A China deu um grande passo na representação de histórias LGBTQ+ com “Who Knows Girls’ L”, a primeira série GL chinesa. Produzida em formato de curta-metragem, a série tem conquistado o público com sua narrativa envolvente e uma abordagem única sobre o amor entre mulheres. Para entender melhor o contexto e os desafios dessa produção, a equipe da GirlsLove Hub entrevistou a equipe criativa por trás do projeto.
O Formato de Curtas e a Ascensão do Consumo Rápido
GirlsLove Hub: Sabemos que na China os curtas-metragens estão ganhando cada vez mais espaço. Como surgiu a ideia de criar um curta nesse formato?
Who Knows Girls’ L: A popularidade dos conteúdos curtos está muito ligada à ampla adoção dos smartphones e ao crescimento de plataformas de vídeos curtos, como YouTube Shorts, Instagram Reels e, na China, Bilibili e Xiaohongshu. A sociedade atual tem um ritmo acelerado e as pessoas perderam a paciência para assistir conteúdos longos. Nossa equipe tem formação em cinema e, se tivéssemos orçamento e equipamentos adequados, gostaríamos de produzir uma série longa. Mas, considerando nossas limitações, os curtas são a opção mais viável, pois têm um ciclo de produção rápido e permitem ajustes conforme o feedback do público. Com o tempo, acreditamos que esse formato poderá desenvolver uma linguagem própria e enriquecer a arte da narrativa visual.
O Cenário LGBTQ+ na China
GirlsLove Hub: Poderiam compartilhar um pouco sobre a experiência LGBTQ+ na China para entendermos melhor o contexto da indústria?
Who Knows Girls’ L: Nos últimos anos, a comunidade LGBTQ+ tem se tornado mais visível na sociedade, participando de eventos como a “Rainbow Run”. Entretanto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não é legalmente reconhecido, e muitos casais recorrem à “tutela intencional” para garantir direitos em situações médicas.
A mídia chinesa já produziu clássicos LGBTQ+, mas atualmente há uma omissão intencional desse tipo de conteúdo. Ainda assim, a indústria do entretenimento explora histórias homoafetivas e até mesmo incentiva o “shipping” entre celebridades do mesmo sexo, mas sem reconhecer abertamente a identidade LGBTQ+ dessas pessoas.
Em cidades como Xangai, Pequim e Chengdu, a aceitação tende a ser maior entre os mais jovens. Contudo, para muitos pais, a aceitação da orientação sexual dos filhos ainda exige um longo processo de diálogo, e muitas mulheres lésbicas vivem suas relações sob o disfarce da amizade. Nosso objetivo com “Who Knows Girls’ L” é criar uma realidade alternativa onde o amor entre mulheres seja algo natural e incontestável.
A Mensagem da Série
GirlsLove Hub: Qual mensagem vocês esperam transmitir com este curta?
Who Knows Girls’ L: Nosso objetivo é simples: contar uma história de amor doce entre duas mulheres na China. Não queremos dar um peso exagerado à obra, pois isso poderia torná-la excessivamente didática. Queremos que o público se sinta relaxado e entretido ao assistir. Para a comunidade LGBTQ+, especialmente aqueles que sonham em contar suas próprias histórias, nosso recado é: apenas façam! Se a realidade for opressora, criem um mundo que lhes traga felicidade.
Crescimento e Censura
GirlsLove Hub: Como vocês enxergam o crescimento dos curtas na indústria do entretenimento chinês, mesmo com a censura?
Who Knows Girls’ L: A demanda do público dita o mercado, e os curtas crescem porque as pessoas querem consumi-los. A censura não pode apagar a necessidade de expressão. Curiosamente, as grandes produtoras têm receio de investir em dramas lésbicos, pois temem o fracasso financeiro e não sabem se há um público forte o suficiente. Mas, para nós, essa preocupação não existe (risos), porque já começamos sem dinheiro!
O crescimento da indústria por si só não é suficiente para impulsionar conteúdos LGBTQ+, pois o mercado chinês se renova constantemente com novas tendências. Expandir para o mercado internacional pode ser uma saída, mas também precisamos de mais apoio institucional, como melhorias na proteção de direitos autorais.
O Futuro do GL Chinês
GirlsLove Hub: Com essa crescente acessibilidade e novas formas de contar histórias, vocês acreditam que as obras chinesas LGBTQ+ podem ganhar mais reconhecimento na mídia asiática?
Who Knows Girls’ L: Alguns romances LGBTQ+ chineses já são populares no Sudeste Asiático, pois escrever livros é mais barato do que produzir séries. Além disso, as regulamentações para literatura são diferentes das do audiovisual. Acreditamos que a China tem capacidade técnica para criar grandes produções GL, mas o maior desafio são as restrições externas. Muitos investidores preferem financiar produções estrangeiras em vez de assumir riscos no mercado interno.
Ainda assim, estamos otimistas. Este ano, conseguimos lançar nossa série. No próximo, talvez mais criadores surjam. Histórias sobre emoções humanas sempre terão ressonância. Esperamos que a Ásia avance coletivamente nesse sentido.
A Escolha do Elenco e o Futuro da Série
GirlsLove Hub: Como foi o processo de escolha das atrizes?
Who Knows Girls’ L: Nosso diretor sempre teve interesse em produções com apelo comercial, então decidimos seguir a estética dos dramas românticos de escritório. Fizemos audições abertas e recrutamos as atrizes através de chamadas de elenco. A atriz Kaiyi (恺怡), que interpreta Gu Yi, já havia trabalhado com o diretor antes, então foi a primeira confirmada. Hao Qianyue (郝千越), que interpreta Cheng Zhijin, é estudante de direito e foi uma surpresa positiva, pois esta é sua estreia como atriz.
GirlsLove Hub: Podemos esperar uma série completa no futuro?
Who Knows Girls’ L: Com certeza! Temos um roteiro completo e uma equipe talentosa. O único obstáculo é o financiamento, já que todos estão trabalhando apenas por paixão e determinação. O progresso pode ser lento, mas faremos de tudo para que essa história ganhe vida. Torcemos para que o projeto avance e possa ser apresentado ao público da melhor forma possível.
“Who Knows Girls’ L” já está disponível no YouTube. Não perca essa história inovadora que está ajudando a abrir caminhos para o GL na China!
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