A GMMTV, uma das maiores e mais influentes produtoras de entretenimento da Tailândia, confirmou sua presença no American Film Market (AFM) 2025, evento que será realizado em novembro, em Los Angeles, reunindo representantes de grandes estúdios e executivos do setor audiovisual mundial. A participação da empresa, contudo, chamou atenção não apenas pelo prestígio do evento, mas principalmente pela ausência de produções dos gêneros BL (Boys Love) e GL (Girls Love) em seu catálogo oficial de apresentação, segmentos que, historicamente, construíram a reputação internacional da marca e impulsionaram seu alcance global nos últimos anos.
De acordo com o anúncio divulgado pela própria produtora, a GMMTV levará ao AFM três títulos principais: Scarlet Heart Thailand, Enigma Black Stage e WU. As obras selecionadas abrangem gêneros como drama histórico, fantasia e suspense, reforçando a tentativa da empresa de diversificar seu portfólio e dialogar com públicos distintos. Ainda assim, o fato de nenhum dos projetos representar o segmento queer, que continua sendo o principal motor de visibilidade e receita da produtora, levantou questionamentos entre fãs, críticos e analistas do mercado de entretenimento asiático.
Para muitos, a escolha simboliza um momento de transição na imagem da GMMTV: de uma produtora associada ao sucesso das narrativas BL e GL, para uma companhia que busca se consolidar como um estúdio de alcance mais amplo e universal. Outros, porém, enxergam a decisão como um afastamento estratégico de um gênero que ainda enfrenta resistência institucional, especialmente em eventos voltados à negociação e distribuição internacional.
Repercussão nas redes
Nas redes sociais, a decisão da GMMTV de não incluir produções BL e GL em sua programação oficial para o AFM 2025 gerou forte repercussão entre fãs, produtores de conteúdo e veículos especializados. Diversos usuários expressaram decepção, frustração e incredulidade diante da escolha, ressaltando que o sucesso global da GMMTV foi construído, em grande parte, pelo apoio de comunidades queer e pelo impacto cultural das séries do gênero.
Entre as críticas mais frequentes, os fãs afirmaram que a empresa parece estar se distanciando das obras que consolidaram sua identidade internacional, apontando a ausência de títulos recentes com alto potencial de exportação. Produções como Memoir of Rati, um BL de estética clássica que retrata a Tailândia antiga e suas tradições culturais, e o GL Whale Store XOXO, ambientado em uma Bangkok moderna e suburbana, foram citadas repetidamente como exemplos de séries que poderiam representar com qualidade a diversidade da indústria tailandesa no cenário global.
Usuários da plataforma X (antigo Twitter) também levantaram discussões sobre o significado simbólico dessa ausência, interpretando-a como um possível “apagamento silencioso” do segmento queer dentro do catálogo da empresa. Para muitos, a escolha transmite uma mensagem de desvalorização das narrativas LGBTQIA+, especialmente em um contexto onde outros estúdios asiáticos e ocidentais têm reforçado o compromisso com a representatividade.
Divergência entre os fãs
Alguns fãs, no entanto, defenderam a escolha da GMMTV, argumentando que levar Scarlet Heart Thailand, Enigma Black Stage e WU ao AFM 2025 poderia ser uma estratégia política e comercial, voltada a posicionar a empresa em um cenário mais neutro diante do público e do mercado norte-americano.
Outros, porém, rebatem essa justificativa, observando que a lista oficial do American Film Market 2025 inclui diversas obras queer de diferentes países, inclusive dos Estados Unidos, o que contradiz a ideia de que o evento não seria receptivo a esse tipo de narrativa.
Esse embate entre visões distintas reacendeu uma discussão antiga entre espectadores e críticos: a percepção de que as produções BL e GL são frequentemente tratadas pelas grandes produtoras como fontes de lucro rápido, sem o mesmo investimento em reconhecimento artístico ou prestígio internacional. Nesse cenário, atores associados ao gênero também se veem em uma encruzilhada, entre buscar validação fora do rótulo BL/GL ou continuar representando a comunidade que os levou ao estrelato.
Outras produtoras apostam em narrativas queer
Enquanto a GMMTV optou por uma programação mais convencional, outras produtoras tailandesas seguiram na direção oposta, reforçando o compromisso com a diversidade e com a representação de histórias queer no cenário internacional.
A Idol Factory levará ao AFM o GL 4 Elements, descrito como um “mega projeto” de escala internacional, que promete combinar narrativa emocional, estética cinematográfica e apelo global. A produtora, conhecida pelo sucesso de GAP: The Series, consolidou-se como um dos principais nomes dos GL da Tailândia.
Já a Mono apresentará duas produções originais: o BL Mandate e o GL Heart Code, ambos com temáticas voltadas à diversidade, autodescoberta e relacionamentos contemporâneos. Essas obras refletem a estratégia da empresa de dialogar com um público mais inclusivo e de reforçar o papel da Tailândia como referência asiática na produção de conteúdo LGBTQIA+.
A presença desses títulos na programação oficial do American Film Market 2025 evidencia a ampla aceitação internacional das narrativas queer e o interesse crescente de estúdios, distribuidores e plataformas em expandir a representatividade no audiovisual, especialmente em produções vindas da Ásia.
Debate sobre representatividade
O episódio reacendeu um debate mais amplo sobre o papel das narrativas queer na indústria audiovisual tailandesa, especialmente no momento em que o país se consolida como um dos maiores exportadores de conteúdo BL (Boys Love) do mundo. Nos últimos anos, essas produções se tornaram um dos principais motores do soft power cultural da Tailândia, atraindo atenção internacional e ampliando a presença do país em plataformas de streaming e festivais globais.
No entanto, especialistas e fãs apontam que o gênero ainda enfrenta barreiras estruturais quando o assunto é reconhecimento artístico e institucional. Apesar do enorme alcance e rentabilidade, as produções BL e GL continuam a ser, em muitos casos, subestimadas em espaços de prestígio internacional, onde ainda prevalecem narrativas heteronormativas ou voltadas a públicos específicos. Essa resistência, segundo analistas, reflete uma tensão entre o sucesso comercial das histórias queer e a busca por legitimidade cultural e crítica dentro do próprio mercado tailandês.
O que vem a seguir
Até o momento, a GMMTV não se pronunciou oficialmente sobre a ausência de produções BL e GL em sua programação para o American Film Market 2025. A decisão, entretanto, continua sendo amplamente discutida nas redes e entre veículos especializados, que observam com atenção os próximos passos da empresa e o possível impacto de sua estratégia na percepção internacional da marca.
Enquanto isso, o público segue dividido entre compreender a escolha como parte de uma política de expansão e vê-la como um sinal de afastamento gradual das narrativas queer que ajudaram a construir a identidade global da produtora. O desdobramento dessa decisão poderá definir não apenas o posicionamento futuro da GMMTV, mas também o lugar da representatividade LGBTQIA+ no entretenimento tailandês diante de um mercado cada vez mais competitivo e internacionalizado.
